sábado, novembro 25, 2006

História real

Uma senhora de uma certa idade estava na farmácia a ser atendida mas não percebia nada, até que a certa altura adianta:
- Não oiço nada, tenho de tirar o algodão que tenho nos ouvidos…
- Algodão?
- Sim, tive de colocar algodão porque tenho andado a ouvir músicas.

Tira o algodão e estica o pescoço para aproximar o ouvido da funcionária.
-Está a ouvir?... bem bonita por sinal, mas muito alta, tive de colocar algodão, porque se alguém ouve ainda vai achar que estou maluca.


A história é verídica, a senhora não vivia preocupada com o facto de ouvir música, mas sim com o que os outros podiam pensar dela. Para além de uma boa gargalhada, retirei daí duas ilações:
-A realidade é função dos olhos que a vêem.
-O Sartre tinha razão, o inferno é o olhar dos outros.

17 Comments:

Blogger noreinodafantasia said...

Infelizmente acabamos por cair no erro de viver em função daquilo que os outros pensam.Isso faz de nós eternos reclusos!...
bjs

12:24 da manhã  
Blogger Unknown said...

Também a farmácia é palco, a par das padarias e barbearias, de estórias curiosas das pessoas, tenho um amigo que é farmacêutico, de quando em vez quando nos encontramos, lá se sai com alguma nova.
Fica contudo a lição, os olhos e as opiniões dos outros como elementos fundamentais e preponderantes na vida de certas pessoas, são extremos pouco vistos, considerados nos dias que correm como deformações patológicas de carácter social, alguém sem a verticalidade da opinião própria, e que se rege obsessivamente por esses olhares e opiniões, mas é seguramente muito mais fácil de lidar com essas pessoas do que com o egoísmo instalado dum, também extremo, egocentrismo casado com o direito e recasado na liberdade. Tudo tão ridiculamente ilusório.
Essa senhora deve ser uma doçura de pessoa.

:)

Beijo

12:47 da manhã  
Blogger zé lérias (?) said...

Passei e gostei.
Resto de bom Domingo para si.

4:25 da tarde  
Blogger Ahlka said...

Noreinodafantasia: Eternos reclusos, mas por vezes, reclusos felizes em contraponto com seres livres e infelizes. Há que saber encontrar um meio termo :)

Jotabê:a socialização de que somos alvo no nosso processo educativo, leva-nos invariavelmente a procurar a ‘aprovação’ dos outros.
Há de facto extremos, achas que caem no foro da patologia, pessoalmente tenho dúvidas de que se trate duma patologia; Para além dos genes estará envolvida a educação e o meio envolvente de cada um.

Para além de Dostoievsky, Sartre analisou muito o ‘outro’, mostrando como se pode tornar um inferno em ‘Huis-Clos’ ou como pode ser o nosso ‘aconchego’ em ‘a infância de um chefe’. Esta última novela foi para mim um referência, desde a adolescência, que me ajuda a aceitar este meu ‘cativeiro’. Aconselho a sua leitura aos dois, assim Noreinodafantasia verá que esta nossa reclusão é o preço da nossa felicidade e Jotabê olhará para esses ‘reclusos’ com mais compaixão.

Hoje, sinto-me uma reclusa infeliz...Amanhã talvez me sinta uma reclusa feliz, mas não sei viver fora da gaiola :)

4:38 da tarde  
Blogger Ahlka said...

Zé, estivemos a escrever em simultâneo (embora sejas mais despachadito do que eu), por isso não te referi..
Seja sempre bem vindo e bom Domingo também para si :)

4:40 da tarde  
Blogger Pascoalita said...

Quer queiramos, quer não, vive-se muito em função do que os outros pensam e somos todos, uns mais do que outros, influenciáveis.

Por referires uma farmácia, imagino qtas estorietas, qtas perguntas absurdas, qtos episódios caracatos não se passarão num local desses!
Tb conheço alguns :-)

10:55 da manhã  
Blogger Unknown said...

Ok, espero que hoje te sintas feliz e amanhã te libertes definitivamente, (no sentido figurado, claro), quanto à patologia, o ‘outro’, levado aos extremos considero patológico, a dependência total do ‘outro’, ou o acto de ignorar o ‘outro’, são só por si manifestações patológicas, e pode até levar, na maioria dos casos até leva, a que o ‘outro’, no caso da dependência obsessiva, se comporte também, de forma patológica. Já deves ter ouvido falar, e até se calhar já ouviste alguém dizer “aquilo não é gostar, é uma doença”, imagina do outro lado o ‘outro’, o poder que tem e o que poderá fazer com ele. A ‘outra’, não aguentou o abandono e lançou ácido à cara do ‘outro’, não achas isto patológico?
No fundo, o que se pretende é que a dependência aconteça, mas que os seus intervenientes, tenha confiança própria e uma personalidade estruturada, para que essa dependência seja o tal aconchego de que o outro fala.
E eu acho que não preciso de ter compaixão, mas sim compreensão por essas “reclusões”, eu próprio sou um recluso. :(

:)

Beijoca

11:07 da manhã  
Blogger Maria Liberdade said...

Não. O inferno é quando nos preocupamos com o olhar dos outros.

11:23 da manhã  
Blogger Ahlka said...

Tenho resposta a dar, mas quero fazê-lo quando estiver lúcida e não bêbada de sono...
Até lá desejo uma boa noite a todos :)*

10:36 da tarde  
Blogger Bandida said...

olhamos.



vemos.

vemos?!....



........



abraço!
______________________________

1:08 da manhã  
Blogger Rui said...

Sorte da senhora que era visitada por música. Pior estão aqueles que ouvem vozes de que não se conseguem livrar.

2:47 da tarde  
Blogger Ahlka said...

PR, do que me resta em memória, penso que o ‘olhar’ era focado com alguma insistência, lembro de existir uma particularidade em’ Huis-Clos’ que era insuportável aos personagens : A falta de espelhos, sendo obrigados a verem-se no olhar dos outros.
De qq forma é um bom ponto de partida para reler umas coisas...

Pascoalita, Podemos ter personalidade mais ou menos forte mas, como animais sociais que somos, dependemos mesmo que inconscientemente dos outros. Por vezes só o notamos em condições extremas.

Jotabê, eu falava no 'outro' em termos genéricos, sem envolvimento emocional.
Quando há sentimentos envolvidos, os dados ficam viciados e podem então surgir os casos que adiantas... Nesse contexto, concordo que cada Ser deva ser autónomo.
Dito isto, está sol, logo estou feliz, mas espero que não apareça ninguém a 'olhar' para mim com o olhar número Z457$HX…. ;)
b
Sílvia, tens razão. No dia a dia, mesmo sabendo que agimos em função do outro , temos de saber abstrair-nos. Assim felizes e contentes, achamos ser livres :)

Rui, quando caminhar para a esclerose também quero ouvir música ;)

1:42 da tarde  
Blogger Ahlka said...

Bandida, ás vezes olhamos sem ver...Mas temos o complexo de sermos sempre vistos...

Aaahhh...E bons dias a todos! :)

1:46 da tarde  
Blogger Pascoalita said...

xiiiiiii o k aqui se aprende! este comentário do Jotabê mais parece uma aula de ... psicologia??? psiquiatria? neurologia??? hummm mto filosófico
gostei de vos ler.

2:14 da tarde  
Blogger Ahlka said...

Pascoalita, filosofando só se desaprende :))

Um dia destes, coloco aqui um texto 'engraçado'...

4:25 da tarde  
Blogger Unknown said...

Nem penses nisso pascoalita, cada vez que escrevo um comentário, lanço-me na prosa cheio de convicção, quando o releio, já estou arrependido de o ter feito, no dia a seguir o único comentário que me sai em forma de desabafo é, "...valha-me Deus estás todo queimadinho". De forma que a única lição que podes ter minha é lá para os lados da alucinação, delírio, por aí, eh, eh

:)

jocas

7:54 da tarde  
Blogger M. said...

Deliciosa história.
Grata pela visita.

11:36 da tarde  

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